terça-feira, 6 de novembro de 2007

O livro, a televisão e a terceira margem da experiência estética


A idéia de adaptar as obras literárias para a linguagem do vídeo tem despertado freqüentemente o interesse dos escritores de textos para a televisão, e isto tem a sabedoria de abrir as portas da percepção para uma atualização do presente a partir dos clássicos. Ao mesmo tempo, a memória literária, o passado, a própria História também se atualizam por meio das televisões. A aparente frivolidade da mídia pode se mostrar fértil permitindo a troca de experiências entre gerações diferentes e estimular o diálogo entre épocas distintas. (...)

Mas por outro lado, no que concerne ao lado performativo da televisão, é preciso evitar o risco de saturar as imagens visuais com signos que pertencem à outra lógica de sentido, e que poderiam prejudicar uma comunicação visual de qualidade. As letras precisam ser móveis, os signos têm que ser nômades, o texto escrito precisa ter a agilidade do cinema se quiser ser convincente junto aos iconofílicos do século XX. As câmeras, lentes, máquinas de visão obedecem a uma série de exigências e curiosidades que se satisfazem através das relações exclusivas entre o olho e o espírito.

Constitui uma competência comunicativa transformar os desafios em oportunidade. Transpor a arte literária para as máquinas de visão implica sempre numa atitude que requer perspicácia e sensibilidade. A recepção de um livro adaptado para a televisão tem a ver com as relações entre a experiência da memória e a experiência do cotidiano dos indivíduos. Diz respeito à alquimia realizada entre o antigo e o novo, o moderno e o tradicional. É uma mistura que precisa ser bem temperada para dar certo. (...)


Autor: Cláudio Cardoso de Paiva, da Universidade Federal da Paraíba

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